Capitulo 61
Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 7:23, educação física.
Guys:
Meus pulmões de fumante não me permitiam correr, então eu só trotava pelo campo. Mas pelo menos tinha meus amigos também fumantes para me acompanhar.
- Foi mais fácil do que tirar pirulito de criança! - Chay contava, animado. - Eu só disse “ei, tem um bar legal no centro e hoje vai tocar uma banda cover de Iron, tá afim de ir?”, e ela nem pensou duas vezes antes de responder “claro!”.
- Cara, que mancada roubar pirulito de criança… - Micael comentou, arfando.
Eu e Chay olhamos para ele com a sobrancelha erguida.
- Por falar em mancada, o que foi você se escondendo da Kátia lá no auditório? - perguntei, fazendo Micael gargalhar.
- Hoje de manhã eu liguei meu celular e tinha uma mensagem de voz dela. - ele disse, como se fosse a coisa mais estranha do mundo.
- E daí? Você transou com ela, acho que seria o normal… - Chay estranhou.
- Não, eu não transei com ela. - ele murmurou, envergonhado. Fiz sinal para Chay não comentar, embora ele estivesse louco para zoar com a cara de Micael. - E normal seria ela me mandar “bom dia!”, não “bom dia, coisa fofa, tudo bom meu gatuxo?” Agora imagina se eu transo com ela!? Ela ia me pedir em casamento!
Eu e Chay começamos a rir, parando um pouco de trotar para poder respirar. Micael nos alcançou e se agachou do nosso lado, morrendo.
- Eu preciso parar de fumar… - ele arfou. - Rápido…
- Para de ser bicha. - Chay disse, recobrando o fôlego. - Primeiro não come a Kátia, depois diz que vai parar de fumar…
- Vai se foder, Suede. - ele disse, fazendo Chay rir, dar um soco em seu ombro e ficar cantando “bichinha, bichinha, bichinha!”.
- Suede, Borges e Aguiar, já que vocês não estão fazendo nada, pro chuveiro antes que eu suspenda vocês também! - o professor berrou em seu megafone, ainda ofendido com a atitude de Pedro e descontando em nós, seus amigos.
Ah! Não precisava nem pedir duas vezes!
Saímos do campo e fomos para o vestiário. Chay disse que só ia tomar banho antes de sair com Mel e saiu para fumar um cigarro, deixando eu e Micael sozinhos.
Ainda de roupa, que fique bem claro.
- Qual é sua próxima aula? - ele perguntou, entrando em um dos chuveiros e fechado a porta.
- Sei lá, acho que é matemática. - respondi, entrando no chuveiro mais distante do dele. - E a sua?
- Física. - ele respondeu, orgulhoso, pois era o único de nós quatro que fazia física avançada. Ligou o chuveiro e gritou por cima do barulho da água corrente. - Depois da aula eu vou na casa do Hirata jogar video-game, tá afim?
- Nem rola, Micael, vou ficar um pouco com a Lua. - respondi, também gritando. - Mas você tá ligado que de noite tem ensaio, né?
- Sim, relaxa, eu já tô sabendo.
Ficamos em silêncio. Eu fiquei embaixo da água, olhando fixamente para a porta de alumínio, sem me mexer. Fiquei pensando no beijo que dera em Lua mais cedo… Chegara a conclusão de que o beijo de Lua era o melhor que eu já havia provado - e que não eram poucos -, só que o mais surpreendente era que a cada beijo ele só melhorava!
Encostei a cabeça na divisória de mármore. Será que ela estava sentindo tudo aquilo por mim também?
- Você tá curtindo ela pra caralho, né? - Micael gritou, como se pudesse ler meus pensamentos.
- É… - suspirei. - Mais do que eu posso gerenciar…
- Sei lá, cara, só relaxa e aproveita. - ele aconselhou. - Eu fiquei com esse mesmo medo em relação à Sophia, e acabei desperdiçando o que eu tinha de especial com ela. Só ontem que eu fui perceber que eu estava gostando mesmo dela… No fundo eu já sabia, mas, sei lá, não quis admitir…
- É o que eu estou tentando fazer, cara, relaxar e aproveitar, mas sei lá, acho que ela não confia em mim ainda. Mas também, depois de tudo que deve ter ouvido sobre mim…
- Então ganha à confiança dela! - ele gritou, desligando o chuveiro. Desliguei o meu também. - Você quer alguém além dela?
- Não, cara…
- Então! Diz isso pra ela!
- É, vou tentar… Mas e aí, o que você vai fazer pra ter a Sophia de volta? - perguntei, mudando de assunto. Não estava muito acostumado a dividir certas coisas com os meus amigos, principalmente sobre o meu “primeiro amor”. Era simplesmente homossexual demais para mim.
Peguei minha boxer que estava pendurada na divisória dos chuveiros e a vesti.
- Sei lá, vou tentar me desculpar. - ele respondeu, e saiu do box. - Só espero que ela me perdoe. Ter ficado com Kátia foi o pior erro que eu já cometi…
Saí do box já com o uniforme. Fui até minha mochila, coloquei meias secas e calcei meu All Star. Esfreguei a toalha na cabeça e a joguei no cesto de toalhas molhadas. Micael fez o mesmo e nós dois saímos do vestiário.
- Finalmente! Já bateu o sinal! - Chay exclamou, acendendo o que parecia ser o segundo cigarro.
Peguei meu maço na bolsa e acendi um também. Micael fez o mesmo e nós subimos a rampa em direção aos prédios. Chegando lá em cima, apagamos nossos cigarros para a inspetora não ver. Chay avistou Mel entrando no segundo prédio e foi atrás dela. Eu e Micael entramos no primeiro prédio e subimos até o último andar. Micael foi até sua sala de física e eu fui até matemática, passando pela sala de geografia, onde Lua e Sophia estavam na porta, conversando animadas.
Não me aguentei e tive que ir até elas. Pedi para Sophia não contar e cubri os olhos de Lua com as mãos. Ela gargalhou.
- Arthur, como você consegue fumar aqui dentro? - ela perguntou, soltando minhas mãos de seus olhos. Virei-a para mim, que beijou meu queixo. - Você não tem medo de ser expulso, não é?
- Medo eu tenho, mas não vou parar de fazer as coisas que eu gosto só porque tenho medo. - respondi, e ela deixou uma mexa cair em seus olhos, como se estivesse envergonhada com o meu comentário. – Bom, Luazinha, vou pra minha aula.
- Ok, Arthur. No intervalo a gente se vê. - ela sorriu de um jeito fofo, mostrando todos os seus dentes alinhados e brancos.
Senti meu estômago revirar. Apaixonado. Eu estava apaixonado.
- Sabe o que essa resposta que você me deu significa? - perguntei, e ela negou, levantando a sobrancelha.
- Que eu já posso te chamar de Luazinha. - sorri, mordendo a ponta do seu nariz.
Ela fez uma careta e me deu um soco de levinho no ombro, antes de entrar na sala. Ainda fiquei um pouco na porta, observando ela se sentar distraída ao lado de Sophia, enquanto o professor comentava sobre as provas. Tive que me forçar a ir embora, pois poderia ficar olhando Lua para sempre.
Ri sozinho. Eu e Lua. Quem diria…
Continua...


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