

Capitulo 78 a 80
Lua:
Eu estava sentada na frente do TacoPlace fumando um cigarro e olhando para o nada. Tinha despachado Eric para dentro da festa, que foi como um cachorrinho. Sophia, Mel e Rayanna vieram falar comigo, mas eu pedi para ficar sozinha um pouco. Não estava com saco de conversar com ninguém.
Estava me sentindo mal. Por que eu estava me sentindo mal? Arthur merecia aquilo. Merecia ter visto aquele beijo. Ele merecia!!! Ele havia beijado Pérola por causa de uma promessa estúpida! Se ele pelo menos tivesse falado comigo antes, ou pelo menos explicado as coisas… Claro que eu me importaria, mas saberia que não estava sendo enganada. Mas aquilo fora cruel demais… E eu ainda estava me sentindo mal por ter beijado Eric!
Talvez era pelo fato de eu saber que Eric quase matara Thur uma vez, durante um viagem com a escola. Ou talvez fosse pelo fato de que eu não tinha o sangue frio dele, e não conseguia beijar alguém sabendo que meu coração pertencia a outro.
Ou talvez eu só era uma idiota apaixonada.
Mas só talvez…
Senti alguém se aproximar e virei os olhos. Não queria conversar com ninguém…
- Oi, Lua. - Carlos, um dos amigos de Thur, sentou-se ao meu lado.
Olhei assustada para ele.
Carlos tinha o nariz reto, os olhos castanhos e as sobrancelhas perfeitamente desenhadas. Seus lábios eram proporcionais e ele estava barbudo, o que adicionava uns três anos na sua real idade.
- Oi, Carlos. - respondi ainda meio assustada. Porque, bem, caras como Carlos não eram legais com meninas como eu.
Nunca.
Ele olhou para frente e deu um gole na sua cerveja.
- Há uns dois meses atrás eu não faria isso. Provavelmente estaria lá com eles. Mas eu cansei de todas as merdas que meus amigos fazem. E você parece ser uma menina sensata, e vai impedir que alguma desgraça aconteça. - ele disse enigmático. Deu mais um gole em sua cerveja, meio mole. - Nesse exato momento Michel e Fábio estão encurralando Arthur lá atrás. Kátia e Pérola estão coletando alguns caras. Eles vão dar uma surra nele.
Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 15:34, TacoPlace.
Thur:
Aquilo era demais! A sensação de saber que estava livre era inacreditável! Queria contar aos guys, contar ao mundo… Mas, mais do que tudo, queria contar à Lua e agradecê-la por ter me ajudado… Era o que eu mais queria. Queria beijá-la, pedir desculpas, dizer que faria com que ela esquecesse Eric. Queria abraçar o mundo e gritar aos quatro ventos que eu estava livre. LIVRE!
Fui até os fundos do TacoPlace, onde os guys disseram que estariam, mas não os encontrei. Só encontrei Fábio & CIA, que pareciam estar me esperando.
Tinha algo estranho naquilo tudo. Algo muito estranho… E nem era pelo fato de que eu estava atrás do TacoPlace com meus antigos amigos que aparentemente me odiavam. E nem era pelo fato de que Michel fumava um baseado… Era algo no ar. Na atmosfera.
- Arthur! Era você mesmo quem eu procurava! Pode me descolar um cigarro? – Fábio exclamou, com um sorrisinho odioso no rosto.
Tirei um cigarro do meu maço e entreguei a Fábio, que o acendeu com um Zippo.
- Valeu… Cara, tava mesmo querendo conversar com você… Na real, quero voltar a ficar de boa com você. - ele deu um trago no cigarro. - Acho que foi uma puta besteira a nossa briga… Eu peguei pesado com a garota… Qual o nome dela mesmo?
Olhei em volta, encarando os desconhecidos, que pareciam rir.
Tinha algo muito errado acontecendo.
- Lua. - falei por entre os dentes.
- Isso! Lua! - ele lembrou.Kátia deu uma risadinha misteriosa atrás dele.
Não gostava do jeito que ele pronunciava seu nome. Não gostava do jeito que eles me olhavam.
- Mas, sabe de uma coisa, Arthur? - Fábio perguntou, olhando para algum lugar além de mim e me abraçando pelos ombros. - Acho que você também pegou meio pesado comigo. Afinal de contas, eu sou seu amigo desde… O quê? Desde sempre?
- Desde o primeiro ano do ensino médio. - respondi, desconfiado. - Qual é Fábio? Qual é a desse papo estranho?
- Você vai descobrir já, já, Arthur… - ele riu, me soltando. Logo em seguida senti dois braços me prenderem por trás, e logo eu estava prensado na parede por dois carar gigantes. - Opa. Descobriu!
Fábio veio até mim com a sua arrogância iminente e me presenteou com um soco bem dado no estômago.
Curvei-me, sem ar.
Quando subi o rosto, os caras que antes me olhavam rindo agora vinham pra cima de mim. A maioria deles estavam chapados.
- Me solta, seu filho da puta! - gritei para Fábio, que riu. Michel, ao seu lado, tragou o baseado e ficou me olhando com um sorrisinho dançando nos lábios. Kátia olhava para o lado, e não passados cinco segundos, Pérola se juntou a ela, com cara de vitoriosa.
- Olá, meu amor! - ela disse, aproximando-se de mim. Beijou minha testa. - Está se divertindo?
- Vagabunda. - cuspi, e ela riu, voltando ao lado de Kátia.
- Opa, opa, opa! Meninos, vocês vão deixar ele chamar a nossa Pérola de vagabunda? - Fábio perguntou a todos os caras que estavam ali.
Um deles, todo tatuado, aproximou-se de mim e me deu uma cabeçada na testa. Tudo apagou e voltou em alguns instantes. Logo em seguida recebi um soco no supercílio que doeu pra caralho.
Claro… Por que eu não havia percebido antes?Fábio era vingativo, e estava muito quieto depois da nossa briga…
Ele estava combinando aquilo há dias. Pérola cobrar a promessa estúpida fora só um pretexto para que Lua terminasse comigo. Eles sabiam que eu ia me encontrar com ela aquela tarde! Separar-me de Lua foi o primeiro gole, porque eles sabiam que eu ficaria vulnerável, e, ficando vulnerável, eles podiam me abordar com tranqüilidade, pois me conheciam e sabiam que quando eu estava triste preferia ficar sozinho.
Jogada de mestre! E eu caíra como um patinho…
Patético.
Outro cara deu um chute no meu estômago, e me curvei, cuspindo sangue no chão.
- Mas já? - Fábio brincou. Os caras que estava me segurando me soltaram e eu caí com um baque surdo no chão, em posição fetal. - Quer arrego, Aguiar?
Eu não conseguia falar, tamanha era minha dor. Senti um chute nas costas e fechei os olhos. Pressentia o pior… Aquilo ia ser um belo de um estrago…
- O que vocês estão fazendo? - ouvi a voz mais doce, linda e suave esbravejar. - Seus covardes!
Não conseguia levantar a cabeça para ver o que estava acontecendo, e perder o controle da situação daquele jeito era pior do que apanhar.
Bom, talvez não pior, mas era tão ruim quanto.
- O que você está fazendo aqui, sua cadela imunda? Não está vendo que estamos dando uma lição no seu namoradinho? - Fábio perguntou à Lua, que gargalhou.
- Que bom que você admite o que está fazendo, Fábio, porque eu tenho um presentinho pra você! - ela disse, ainda rindo.
Por que ela estava rindo? Eu estava apanhando, e se ela continuasse ali provavelmente apanharia também!
Tentei gritar para ela ir embora, mas nada saiu da minha boca.
Consegui abrir os olhos e virar um pouco a cabeça, sentindo uma lufada de dor na região do abdômen. Mas pelo menos não perdi o memorável momento em que todos saíram correndo como cachorrinhos quando dois policiais chegaram, armados. E também não perdi o exato momento em que eles conseguiram pegar e algemar somente duas pessoas:Michel e Fábio.
Aquilo fora memorável.
O pacote completo seria Kátia e Pérola, mas eu me vingaria delas mais tarde…
O chão embaixo de mim estava frio, e a dor me impedia de raciocinar direito. De repente duas pernas apareceram na minha frente, apressadas. Lua se agachou e tocou minha sobrancelha, o que me fez estremecer.
- Filhos da puta… - ela murmurou, sem olhar para mim.
- Obrigado. - sussurrei, ainda sem conseguir falar direito.
Ela finalmente cedeu e me olhou, contrariada. Ficamos nos olhando até ela interromper.
- Me desculpe à demora. Mas se eu viesse aqui sozinha provavelmente eles bateriam em mim também.
Menina esperta!
Sorri, e ela sorriu pra mim, mas com uma expressão de dor no rosto, porque provavelmente minha boca estava inundada de sangue.
Do nada Chay, Pedro, Micael, Sophia, Mel e Rayanna materializaram-se entre nós dois, estragando o momento.
- Caralho, o que você fez dessa vez? - Micael perguntou assustado com a quantidade de sangue no chão.
- Meu Deus, Arthur, você está bem? - Rayanna perguntou, provavelmente já sabendo a resposta.
Um dos policiais veio em minha direção, enquanto o outro levava Michel e Fábio algemados para o carro.
- Você consegue se levantar ou precisa que eu chame uma ambulância? - ele perguntou.
- Sinceramente, eu não sei. - respondi, tentando me mexer e sentindo uma dor absurda, mas que diminuía gradativamente.
- Vamos lá, você precisa se levantar. - ele aconselhou, afastando todos. Agachou-se ao meu lado, colocando meu braço em volta do seu ombro. Senti outra pontada, mas pelo menos estava sentado. Chay foi do outro lado e os dois me levantaram. Tive que me apoiar na parede para conseguir ficar de pé. - Certo você vai ter que ir até a delegacia com a gente. Você e você também. - ele apontou para Lua, que concordou com a cabeça.
Fiquei olhando para ela enquanto o policial anotava algumas coisas em uma prancheta e todos falavam ao mesmo tempo. Ela também olhava para mim, um tanto quanto envergonhada.
- Vamos? - o policial finalmente parou de escrever e chamou minha atenção. Desviei os olhos de Lua e concordei.
Despedi-me de todos, depois de prometer contar o que havia acontecido mais tarde, e fui com o policial e Lua em direção a uma viatura vazia. As pessoas que estavam por perto olhavam para nós assustados.
Lua entrou primeiro e eu sentei-me ao seu lado no banco de trás.
- Minha mãe vai te matar quando vir essa sobrancelha. - ela comentou, sem olhar pra mim.
Foi a única coisa que ela disse nos quinze minutos de trajeto até a delegacia.
Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 16:40, delegacia..
Lua: Qual era o problema daquelas pessoas? Nós já estávamos ali há séculos! Já havíamos dado nosso depoimento, e eles teimavam em manter Arthur dentro de uma sala isolada. “Procedimento padrão” todos eles respondiam quando eu perguntava. Procedimento padrão é o caralho! Eu ia mostrar o procedimento padrão da minha mãe irritada pra eles sentirem na pele! Bom, pelo menos um deles era legal e estava jogando tranca comigo enquanto Arthur era mantido em cativeiro. - Então deixa ver se eu entendi… Aquele garoto todo machucado lá dentro é seu namorado de mentira? E você está triste porque ele te traiu? - ele perguntou, recolhendo todas as cartas da mesa e anotando o resultado no bloquinho de papel sujo. - Ele era de mentira. Aí nós nos envolvemos…
- senti minha bochecha corar. Eu estava mesmo tendo aquele converso com um policial gordinho comedor de Donuts? - Aí ele me traiu. - Aaaah…
- ele finalmente entendeu, dando as cartas. - Bom, não tiro sua razão de ter revidado na mesma moeda. Quem traiu merece ser traído! Ai meu Deus, alguém me entendia! Meu celular começou a vibrar e meu coração deu um pulo no peito. Sabia que mais cedo ou mais tarde ela me ligaria. Mas não pensei que seria tão cedo assim.
- Só um instante. - pedi ao guarda, abrindo o flip do celular.
- Alô? - Lua, mudança de planos! - minha mãe gritou do outro lado. Estava em um lugar barulhento. - Dylan quebrou o braço, eu não posso ir pra Rio hoje. Você vai ter que vir até aqui! Tudo bem? Obrigada, Deus! Muito obrigada!!! Suspirei, aliviada, rindo à toa. Não teria que explicar a minha mãe que me atrasara para buscá-la na estação de trem porque estava na delegacia! Porque explicar isso a ela seria um tanto quanto… Tenebroso. - Tudo ótimo! - exclamei. - Ótimo! - Que bom! - ela exclamou.
- O último trem sai às 17h30. Te espero na estação. - Pera aí, eu tenho que ir ho… - ia dizendo, quando ela desligou na minha cara. - je? Desliguei o celular e suspirei. Ah, minha mãe… - Problemas? - Bob, o policial, perguntou. - Bom, ainda não, mas se prenderem Arthur lá por muito mais tempo eu vou ter. - olhei no relógio da parede, que mostrava 16h45.
- Se esse é o seu problema, problem solved. – Arthur disse atrás de mim. Virei-me com um pulo, para encontrá-lo parado a alguns centímetros da minha cadeira. Sua sobrancelha estava com um curativo e sua boca não estava mais vermelha de sangue. Ele estava meio curvado, provavelmente pela dor no estômago, mas parecia saudável. Na medida do possível. Senti uma pontada no coração. Coitadinho do meu Arthur! Que não era mais meu…
- Bom obrigado pela diversão, Bob! - agradeci, levantando-me e pegando minha bolsa na mesa. - Não foi nada. Volte toda vez que se sentir entediada! - ele brincou, mostrando o baralho. - Mas volte sem esse vestido… - ele apontou para todos os guardas que me olhavam interessados. Depois entregou a Thur seus pertences - relógio, carteira, uma palheta, 100 reais, um maço de cigarros amassado, dois isqueiros e algumas moedas - e sorriu para nós dois. Saímos da delegacia em silêncio. Thur colocou seus óculos de sol e ligou para Chay avisando que estava tudo bem. Caminhamos até o ponto de ônibus no final da rua, ainda sem dizer nada. Quando nos sentamos resolvi quebrar o silêncio. - O que eles ficaram fazendo com você até agora?
- Você nem queira saber… - ele brincou. - Eu até já imagino… Com esses lindos olhos castanhos você virou a mocinha deles. - comentei, e ele riu. - Eu nunca mais vou ser o mesmo… Rimos juntos, mas a risada foi diminuindo, até nós voltarmos à estaca zero. Sabe aqueles típicos momentos de constrangimento? Estávamos passando por um daqueles.
O que era bem chato, porque nós nunca calávamos a boca juntos. Naquele momento eu preferiria estar brigando com Thur do que ficar naquele silêncio chato.
- Você quer que eu peça pra alguém vir buscar a gente ou prefere ir de ônibus? - ele perguntou, um pouco tímido.
- Vamos de ônibus até sua casa, pra pegar seu smoking, depois alguém nos leva até minha casa, para eu pegar minhas coisas e trocar de roupa, e depois vamos para a estação de trem. - respondi, esquecendo que ainda não havia contado a ele que iríamos para a casa da minha mãe. - Hã? - ele perguntou, fazendo a cara de desentendido mais fofa do universo.
Tive que me segurar para não afagar seu cabelo e falar “oooown, cuti-cuti da mamãe!”. Sério. - Lembra quando eu disse que estaria com problemas se você demorasse muito? - perguntei, e ele balançou a cabeça em afirmativa.
- Então, meu problema era que o último trem para a casa da minha mãe é às 17h30. - ele parecia mais perdido ainda.
- Ela não pôde vir para cá, meu meio-irmão quebrou o braço,mas disse que nos espera na estação. - expliquei e ele fez um “aaaaah” mais fofo ainda do que o “hã?”. - Entendi… Beleza. - ele concordou. - E obrigado mais uma vez por hoje. Você foi demais. - Não foi nada. - dei de ombros, envergonhada. - Se não fosse pelo Carlos, você provavelmente estaria apanhando até agora… - Sério? Por quê? - Ele que me contou o que eles estavam armando. - Por essa eu não esperava. - ele comentou. –
Preciso agradecê-lo por isso… Nosso ônibus virou a esquina, e eu me levantei. Ele fez o mesmo - um pouco lento - e logo nós dois estávamos subindo as escadinhas. Assim que cheguei no último degrau, tropecei e tive que me apoiar no motorista para não cair. Thur atrás de mim gargalhou de perder o fôlego. Mandei-o ir se foder e nós dois começamos a rir. Sentamo-nos e ele começou a fazer piadas sobre a minha total falta de equilíbrio e coordenação, me fazendo rir. Aquilo era muito bom. Por um momento me esqueci de Pérola, de Michel, de Fábio, de Eric e de todos os problemas. Éramos dois idiotas sem nenhuma preocupação ou mágoa novamente. E ser idiota era demais.
2 comentários:
ela copiou do blog quase teen
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Por Favor sem Palavra de Baixo Calao