quinta-feira, 29 de março de 2012


"O Melhor pra Mim"

0

                                          

Capitulo 62 a 77
Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 8:05, geografia.
Girls:
- Ai meu Deus, você está apaixonada! - Sophia exclamou, rindo. Segurei-me para não rir, enfiando a cabeça no ninho que havia feito com a minha blusa em cima da carteira. - Apaixonada por Arthur Aguiar! Apaixonada, amando, com cara de idiota e tudo que tem direito!
- Vai se foder, Sophia! - exclamei, mas como estava com a cara enfiada na blusa, saiu uma coisa meio “bai be bober Bah!”. Levantei o rosto, que provavelmente estava vermelho, e a encarei. - Estou mesmo. Pronto, está feliz?
- Estou. - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Eu sabia. Desde aquele primeiro dia que você deu um chute no estômago dele eu sabia que vocês dois iam ficar juntos… - ela suspirou.
- Ahã, senta lá Cláudia… - brinquei, e ela gargalhou.
- Mas e aí, ficou sabendo que a Mel colocou em prática nosso pacto? Está com um encontro marcado com o Suede e tudo…
- Uou! Ela foi rápida! - exclamei. O professor fez “xiu” para nós duas, então eu abaixei a voz. - Agora só falta você e a Ray.
- Sei lá se eu vou ter coragem de fazer isso… - Sophia suspirou. - Sabe, ele me magoou muito…
- Mas todos merecem uma segunda chance. - sussurrei. Depois completei: - Mas você só vai dar se ele parecer arrependido e insistir muito!
- Pode deixar, mamãe. - ela sorriu triste.
- Meninas, por favor, eu já pedi educadamente, da próxima vez as duas vão pra fora. - o professor abriu os braços num gesto de frustração. Concordei com a cabeça e Sophia abafou a risada. Fiz sinal para que ela parasse e nós duas voltamos a prestar atenção na aula.
Na verdade eu voltei a prestar atenção no nada, porque minha cabeça estava bem longe… Estava no beijo de mais cedo… Comecei a imaginar como seria um relacionamento mais sério com Arthur. Imaginei nós dois no sofá de casa, assistindo a algum filme e comendo pipoca. Então Sophia nos ligaria e apareceria em minha casa algum tempo depois com Micael. Mel e Rayanna viriam mais tarde, com Chay e Pedro, e nós seríamos um grupo de 4 casais idiotas assistindo filmes na minha casa. Então Arthur comentaria que estava cansado e que no dia seguinte teria um show. Todos iriam embora e no dia seguinte ele me acordaria com uma mensagem dizendo “bom dia, meu amor!”. Eu acordaria de bom humor e ligaria para ele, ouvindo o mega público gritando por seu nome. Ele diria que estava entrando no palco e antes de desligar gritaria: “Te amo, Luazinha!”.
Então, depois do show, nós…
- Lua? Você tá legal? - Sophia perguntou, me cutucando. Balancei a cabeça.
- Tô, por quê?
- Porque o professor te fez uma pergunta. - ela sussurrou, apontando com a cabeça para frente.
Olhei para cima e o professor estava parado na minha frente. Toda sala me olhava.
- Então srta. Blanco, em que península se encontra o Reino Unido?
- Península da Cornuália. - respondi, sem piscar os olhos.
O professor deu de ombros e voltou para o seu palquinho, escrevendo o que eu havia acabado de responder na lousa.
Olhei para Sophia, que ria sozinha. Ela fez círculos em volta da cabeça com os dois dedos indicadores, como se eu estivesse louca, e eu mostrei o dedo médio pra ela, antes de mergulhar novamente em meus devaneios.
Eu era uma punk esquisita, mas eu também podia sonhar, não?
Capitulo 63

Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 9:23, diretoria..
Guys:
- Eu acho que você deveria falar com ela. Sei lá,  só tenta. - aconselhei, quando vi a cara de idiota que Micael fez quando Sophia passou ao seu lado, ignorando-o como se ele não existisse. - Ninguém morre por tentar.
Ele balançou a cabeça, como se afastasse alguma coisa, e continuou andando. Chay fez uma careta ao meu lado e nós três nos dirigimos à conhecida e aconchegante sala da diretora Mary.
Dessa vez eu não tinha feito nada. Pelo menos nada de que eu me lembrasse.
- Sentem-se, meninos. - ela apontou as três cadeiras à sua frente.
Sentamo-nos, com o cu na mão, e esperamos ela se pronunciar.
- Meninos, o professor de educação física me disse que está difícil trabalhar com vocês. - ela começou, cautelosa. Olhei com o canto dos olhos para Micael e Chay, que olhavam atentos para a diretora. - E ele me pediu para que transferisse vocês da turma. E a única coisa que eu posso fazer é colocar vocês junto com as meninas. Sei que isso é chato, mas o professor está passando por problemas em casa e está uma pilha de nervos! Tudo bem pra vocês? É só por algum tempo, até ele se acalmar…
Entreolhamos-nos, embasbacados.
Depois de três segundos, caímos na risada.
Sem professor pé no saco, sem aulas chatas de basquete e sem homens suando e pulando em cima de você. Tinha como melhorar? Sim! A visão perfeita de todas as meninas da sala correndo, com seus peitos balançando e seus mini-shorts suados!
Obrigado, Senhor!
- Não estou entendendo. Pensei que seria ruim para vocês! - Mary comentou, confusa.
- Não, não, é péssimo… - Micael concordou, enxugando as lágrimas e tentando ficar sério. - Mas se é a nossa única opção.
- Ótimo! Vocês começam semana que vem. - ela sorriu. - Agora estão liberados.
Capitulo 64


Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 10:35, intervalo do Elite Way..
Girls:
- Aposto 10 reais que eles vão marcar um encontro hoje. - Rayanna comentou, segurando-se para não rir.
- Aposto 10 reais que ela dá um fora nele. - Arthur concordou, tirando o braço dos meus ombros para apertar a mão de Rayanna.
- Nunca ganhei 10 reais tão fácil… - ela sussurrou em meu ouvido.
Dei uma mordida em meu lanche de queijo branco com peito de peru, aproveitando o Sol gostoso que batia onde estávamos sentados. Arthur estava com o braço direito em volta dos meus ombros, conversando com os meninos. Eu conversava com as meninas despreocupadas. Nós não pretendíamos nos sentar ali, mas Chay nos chamou e Arthur insistiu, então não teve jeito. Era esquisito sentar onde eu sempre lançava olhares reprovadores.
Assim que chegamos, Micael pediu para conversar com Sophia, que foi depois de fazer um cu doce. Eles foram para um lugar afastado, mas nós ainda podíamos vê-los. Sophia estava apoiada na parede, enquanto Micael gesticulava sem parar. Ela só balançava a cabeça de vez em quando, concordando ou negando.
Eu sabia que ela não resistiria por muito tempo. Ela era loucamente apaixonada por ele, desde que ele entrara na escola, na oitava série. Lembrava como se tivesse acabado de acontecer.
Flashback on.
Nós estávamos subindo as rampas do prédio do ensino fundamental. Sophia estava reclamando do aparelho fixo que acabara de colocar nos dentes para nós três, e Mel estava receitando alguns remédios que tomava para tirar a dor. Assim que entramos no prédio avistamos um garoto novo entre Arthur, Chay, Pedro, Kátia, Pérola, Fábio, Michel e Carlos. Achei esquisita a panelinha mais cobiçada acolher um novo membro, mas deixei passar. Sophia não.
- Quem é aquele menino? - ela perguntou, colocando a mão na frente da boca.
- Sei lá. - respondi, dando de ombros. Reparei que Arthur me olhava e comentava alguma coisa com Kátia, que riu. - E nem quero saber.
- Ele é lindo! - ela exclamou, com os olhos brilhando.
- Todos eles são. Grande coisa. - Rayanna comentou, rindo.
- Acho que eu estou apaixonada. - ela travou, sem conseguir se mexer. - Meu Deus, ele é lindo demais!
- Vai lá falar com ele. - eu brinquei, sabendo muito bem que se ela fosse sairia de lá humilhada. - Quem sabe ele não descobre que você é o amor da vida dele?
- Vai brincando, Lua. Você vai ver… Eu nem sei o nome dele, mas ele ainda vai se rastejar aos meus pés. - ela disse, jogando os cabelos para trás. Nós quatro rimos e ela passou ao lado dele, olhando bem dentro dos seus olhos.
Ele piscou com indiferença.
Flashback off.
- Aonde vai ser o ensaio hoje? - Chay perguntou, me tirando das lembranças.
- Lá em casa mesmo. É melhor do que todos aqueles estagiários nos olhando. - Arthur brincou que estava arrepiado.
- Você tem que ir treinando pra não vomitar no público. - Chay comentou, e Thur o mandouele ir se foder.
Apoiei minha cabeça no peito de Thur. Ele não estava esperando por aquilo, então riu e beijou o topo da minha cabeça.
- O que foi linda? - perguntou, ainda com a boca em meus cabelos.
- Nada. Eu só… Gosto de ficar assim com você… - sussurrei, quase que inaudível. Arthur riu, me dando outro beijo no topo da cabeça.
- Eu também gosto. Adoro.
Inclinei meu rosto para cima, ficando com a boca a centímetros da sua. Ele mordeu a língua - de um jeito que me fez arfar - e sorriu sem mostrar os dentes. Aproximou seu nariz do meu e fechou os olhos. Fiz o mesmo. Nossas bocas se encostaram suavemente e nós dois sorrimos. Abri minha boca devagar, deixando sua língua entrar. Com uma mão comecei a brincar com o seu cabelo e com a outra segurei sua mão. Beijávamos-nos com mais vontade que o normal, e Arthur tirou o braço dos meus ombros e me envolveu pela cintura. No meio do beijo ele dava mordidas no meu lábio inferior e me fazia rir.
Eu estava hiperventilando.
Estávamos no meio do beijo quando o sinal bateu.
- Hm… - ele gemeu, separando nossas bocas. – Por que, Deus?
Encarei seus olhos, que me olhavam divertidos.
- É a vida… - entortei a boca. - Uns dias a gente perde, nos outros a gente ganha…
- Ha ha ha, gracinha. Vai pra aula vai, manter sua média 9,95.
- 9,98. - corrigi, e ele virou os olhos.
Chay já se levantava, e Micael voltava com Sophia, os dois sérios.
Despedi-me de Arthur com um selinho e fui com Sophia e Mel para dentro. Passamos por Kátia e Pérola, que sussurravam no corredor. Assim que nós passamos, elas pararam de falar e nos olharam com desdém. Quando viramos o corredor elas recomeçaram a conversar baixinho.
Alguma coisa estranha estava acontecendo.
Mas não me importei. Tudo estava bem.
Pena que tudo que é bom um dia acaba…
Mais tarde…
Despedi-me das minhas amigas com um beijo no rosto. Sophia foi em direção à Micael, que a esperava perto de seu carro. Os dois haviam combinado de conversar direito aquela tarde. Mel foi com Rayanna em direção ao carro de Chay. Ele deixaria as duas na casa de Mel e iria para sua casa encontrar Pedro e chamá-lo para ir junto ao bar. Um encontro duplo. Fofura!
Arthur saiu mais cedo da aula - lê-se cabulou a última aula - e mandou uma mensagem avisando que me esperaria perto do carrinho de cachorro-quente do campão. Caminhei até lá, procurando-o com os olhos. Não o encontrei em lugar nenhum, estranhando. Coloquei minha mochila no chão e me sentei, esperando. Passados uns cinco minutos, nada de Arthur. Coloquei novamente a mochila nas costas e resolvi procurá-lo. Talvez existisse outro carrinho de cachorro-quente no parque…
Afastei-me dos alunos aglomerados e entrei na área mais silenciosa do campão, perto das árvores. Estava tudo quieto e fazia frio por estar longe dos raios solares. De repente ouvi uma voz feminina sussurrar. Parei, estática. Agucei o ouvido. Não consegui ouvir nada, então dei cinco passos para frente, reconhecendo Pérola. Ela conversava com alguém que estava apoiado no tronco de uma árvore. Não conseguia ver quem era, nem ouvir sua voz, mas os dois pareciam ser bem íntimos.
Em condições normais sairia dali e deixaria o casal em paz. Não era uma desocupada que vivia atrás de fofoca. Mas estava sentindo alguma coisa esquisita naquela situação, e esse sentimento me fez ficar ali, escondida atrás de alguns arbustos baixos, observando Pérola gesticular.
Grande erro.
Ela deu dois passos para trás, e duas mãos a puxaram de volta.
Congelei. Eu… Eu conhecia aquelas mãos!
Dei dois passos para a esquerda, no exato momento em que Pérola se inclinava para beijar Arthur.
O meu Arthur.

Capitulo 65

Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 13:26, campão.
Thur:
Minhas costas doíam de tanta pressão que estava fazendo contra o tronco da árvore. Não tinha para onde fugir… Eu não havia esquecido da promessa… Mas como eu poderia prever tudo que aconteceria na minha vida? Eu estava bêbado, pelo amor de Deus! Que tipo de pessoa acredita em promessas de um bêbado?
- Pérola, por favor… - murmurei, desesperado. - Não faz isso comigo.
- Arthur, você prometeu! - ela choramingou, com os olhos marejados. - Você sabe que a última coisa que eu queria era que isso acontecesse… Porra, eu amo você! E agora a única coisa que me resta é a sua promessa!
- Eu estava bêbado, Pérola! Bêbado! - exclamei exaltado. Ela abaixou os olhos, deixando algumas lágrimas caírem. Suspirei. - Me desculpe, não queria te fazer chorar… É só que… Você consegue me entender? Entende a sinuca que você me deixou?
- Tudo bem, Arthur… Se você não preza nada do que nós passamos juntos, eu não posso fazer nada… - ela levantou a cabeça, limpando as lágrimas. Deu dois passos para trás, ameaçando ir embora.
Fechei os olhos. Se eu parasse para pensar, ela era mesmo o mais próximo que eu cheguei de gostar de alguém. Era minha melhor amiga, minha ficante fixa. E agora eu havia tirado tudo isso dela. Se eu pudesse escolher, claro que não o faria, pois não queria magoá-la depois de todos aqueles anos de idas e vindas, de amizade. Mas o que eu poderia fazer? Eu estava apaixonado por outra pessoa! E acima de tudo eu não queria magoar Lua!
Agora ela estava ali, pedindo que eu cumprisse uma única promessa idiota para que ela pudesse seguir em frente.
Porque eu ainda bebia mesmo?
- Pérola, vem cá… - murmurei. Virei os olhos e puxei-a de volta.
- Você é mesmo um cara perfeito. - ela sussurrou, rindo.
Ela juntou seus lábios aos meus, ainda sorrindo. Segurei-a pela cintura, sentindo seu perfume doce. Seus cabelos  lisos caíram no meu ombro, e ela colocou as duas mãos em meu pescoço.
Beijei-a por alguns segundos. Era bom, com certeza era. Bom e conhecido. Mas não era quem deveria ser… Eu estava traindo a confiança de Lua, e algo me dizia que aquilo não morreria ali. Só de pensar em Lua vendo aquilo, um arrepio passou pelas minhas costas.
Fechei a boca, dando um selinho para terminar o beijo.
- Me desculpe, Pérola, você é ótima, e eu tenho certeza de que alguém muito melhor do que eu vai te encontrar e rir de mim por perder uma garota como você. Mas atualmente meu coração pertence à outra garota… - abri os olhos, encontrando os seus lindos olhos azuis fitando o chão. - Eu sinto muito.
Pérola mordeu o lábio inferior e olhou para cima, segurando as lágrimas.
- Ela tem muita sorte. Ser o primeiro amor de Arthur Aguiar… - então abaixou os olhos, dando de ombros. - Então acho que esse é o fim.
- Sim. - concordei, desapoiando-me da árvore. - Espero que ainda possamos ser amigos.
- Não sei se já estou preparada para isso… Mas quem sabe no futuro?
- Vou esperar ansiosamente por esse dia. - sorri, beijando sua testa carinhosamente.
Caminhei para longe dali. Assim que encontrei o Sol novamente, coloquei a mão em cima dos olhos, incomodado com a claridade. De longe pude avistar a mochila desenhada com arames farpados de Lua, e sorri.
Até sua mochila me fazia sorrir.
Era claro que contaria para ela. Era a primeira coisa que iria fazer. Explicaria a promessa e pediria perdão. E se ela não me perdoasse não a deixaria em paz até que o fizesse.
Corri até sua direção. Quando estava perto o suficiente para que ela pudesse me ouvir, chamei:
- Lua! - como ela não esboçou nenhum tipo de reação, pensei que não tivesse me ouvido. - Lua! Atrás! - gritei mais alto, fazendo-a parar no lugar. Caminhei até ela, que se virava lentamente. - Oi, me desculpe, tive que resolver algumas coisas e…
- Eu não posso fazer isso. - ela murmurou, me cortando. Olhava o chão, estática. Levantei a sobrancelha. Quê? – Olha, Arthur, você é um cara legal e tudo mais, mas eu… Eu não posso ficar com você.
- Como assim, Lua? Estava tudo bem até hoje de manhã! - exclamei, exasperado. Será que ela… Será que ela havia visto alguma coisa? Apressei-me em me explicar. - Lua, se você viu alguma coisa agora, eu posso explicar. Eu havia prometido à Pérola que…
- Não é nada disso. - ela subiu o olhar, me encarando. - Eu… Eu gosto de outra pessoa.
- Você o quê?
Capitulo 66

Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 13:29, campão.
Lua:
- Eu gosto de outra pessoa. - repeti, firme.
Fiquei alguns segundos encarando o chão.
- Quem? - ele finalmente perguntou, com cara e voz de incrédulo.
Era melhor assim. Nada de cenas de ciúmes, nada de brigas. Uma desculpa idiota pra terminar uma relação que estava fadada ao fracasso. Você pode não concordar, e dizer que o amor supera tudo. E sim, eu o amava, apesar de tudo. Mas eu simplesmente não sabia lidar com tudo aquilo. Arthur era um cara desejado, um cara que sabia encantar as pessoas. Qual era meu papel no filme que era sua vida? A nerd que no final ficava bonita e de sobra ganhava o príncipe encantado? Isso eu não poderia aturar. Porque eu tinha os melhores exemplos de que a vida real não era como nos filmes. A vida real era cruel e sabia te colocar em seu devido lugar. E foi o que eu fiz. Poupei esforços em vão, poupei problemas insolúveis. Coloquei-me onde não deveria nunca ter saído.
Além do mais, eu estava muito puta. Magoada, chateada, me sentindo traída. Estava um lixo… Não estava a fim de ouvir explicações furadas, mentiras deslavadas. Ele era um galinha, e mentir era o que ele fazia melhor. Criar ilusões era o seu dom… A ingenuidade foi minha de ter acreditado que comigo seria diferente. Aquele era o ponto final.
Mas por que, mesmo sabendo de tudo isso, eu estava sentindo como se tivesse acabado de receber um chute no estômago?
Mas o pior não foi mentir. O pior não foi fingir indiferença ao fato de que ele estava beijando Pérola. O pior foi ter que vasculhar minha mente em poucos segundos à procura de alguém que pudesse fazer Arthur sentir raiva de ter me conhecido. Alguém que ele odiasse, e que o odiasse de volta. Alguém como…
- Eric. - respondi, achando o cara perfeito. Sorri com o canto da boca com a minha esperteza, mas Arthur pareceu não perceber, tamanha sua surpresa.
- Eric ? - ele perguntou, deixando a boca aberta.
- Sim. - murmurei, não conseguindo encarar seus olhos castanhos, que brilhavam de raiva. - Sempre gostei.
- Que ótimo. - ele ironizou. - Que grande bosta eim, Lua? Como você usa alguém desse jeito?
Segurei-me para não rir. Olha só quem estava falando!
- Me desculpe… Não era minha intenção… As coisas foram acontecendo, mas eu não posso mais continuar com isso. - estava com vontade de xingá-lo de todos os palavrões que conhecia, ou jogar na cara dele como estava sendo hipócrita, mas me segurei. Eu queria acabar com aquilo de uma vez por todas. E queria que ele sofresse também.
- Bom, acho você já disse tudo… Obrigado por me fazer de idiota. - ele exclamou, dando as costas para mim e indo embora, sem se despedir. Deu alguns passos e acendeu um cigarro, ignorando algumas pessoas que o cumprimentaram pelo caminho.
“De nada” pensei em dizer, mas ele já estava longe, e eu não estava com ânimo para brincadeiras.
Suspirei, virei-me e fui em direção ao ponto de ônibus. Estava me sentindo vazia.
Capitulo 67


Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 13:45, home sweet home.
Guys:
- Não pergunta. - comandei, assim que entrei em casa e percebi que Pedro e Chay abriam a boca para perguntar o porquê de eu ter voltado tão cedo. - Sério, não pergunta. Eles se entreolharam, confusos. Joguei minha mochila em cima do sofá com raiva e fui até a cozinha. Abri o armário de bebidas e peguei uma vodka solitária, que empoeirava desde o churrasco de aniversário de Micael. Levei-a para a sala, pegando o cinzeiro no caminho. Chay e Pedro agora ignoravam minha presença, como pedido, e jogavam Super Smash Bros. Acendi um cigarro e dei um longo gole na vodka, estremecendo, enquanto observava o jogo, sem prestar muita atenção.
Puta merda, o que acabara de acontecer? Estava tudo bem de manhã! Estava tudo ótimo! Que porra de tarde fora aquela?
Dei mais um gole na vodka. Não queria pensar, não queria pensar, não queria pensar.
PORRA! Eric? Ela estava de brincadeira? Que tipo de atração um repetente idiota poderia causar em Lua? Que qualidade poderia tê-la agradado? Ele era um escroto que só sabia foder com a vida dos outros. Será que ela sabia que por causa dele eu quase morrera uma vez? Cara otário do caralho…
- Cara, eu não queria dizer nada, mas você está xingando baixinho, e meu vô fazia isso. - Chay comentou, e eu tomei mais um gole. - Cara, alguém te fodeu legal…
- É. - foi a única coisa que eu respondi, antes de pegar o cinzeiro e subir para o meu quarto. Não queria conversar com ninguém, e sabia que Chay insistiria até eu mandá-lo tomar no cu.
Sentei-me em minha cama, dando mais um gole na vodka. As janelas estavam fechadas, mas a luz solar conseguia entrar por algumas frestas. Apoiei a cabeça no vidro da janela e fechei os olhos. Dei um longo trago, sentindo uma pressão em meus pulmões. Soltei a fumaça pra cima, embaçando minha visão.
Eu queria parar de pensar. Era a única coisa que eu queria. Mas não conseguia… Seria aquilo vingança por ter me visto beijando Pérola? Ou era mesmo verdade? Eric? Justo o Eric? E por que ela havia me feito de idiota daquele jeito, se estava a fim de outro? Não podia ser verdade… Ela deveria estar puta comigo… Só podia ser…
Porra!
Dei mais um gole na vodka e terminei o cigarro. Foda-se a cirrose, foda-se o câncer no pulmão.
Deitei-me na cama e fiquei encarando o teto.
“Porque você fez isso comigo, Lua?” pensei, suspirando. “Você foi a primeira menina que eu amei de verdade…”
Capitulo 68




Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 13:45, meu quarto.
Lua:
- Maggie, Maggie… Como eu queria ser uma cadelinha saltitante como você agora… - comentei, acariciando as orelhas da minha cachorrinha. Ela encostou a cabeça em minha barriga e me olhou com seus olhos verdes. Lambeu a ponta dos meus dedos e abanou o rabinho. - Eu sei, querida, mas não estou com ânimo para passear agora…
Ela enterrou o fucinho no cobertor e suspirou.
Deitei a cabeça no travesseiro e encarei o teto. Clara estava na sala assistindo TV e meu pai ainda não estava em casa. Estava completamente sozinha com meus pensamentos.
A cena de mais cedo não me saía da cabeça. Arthur puxando Pérola para mais perto. O beijo… Toda vez que pensava naquilo sentia vontade de vomitar. Eu sabia que os dois eram amigos desde sempre, e sabia de seus pequenos casos, mas nunca, nem por um momento, pensei que ele trairia minha confiança. Não éramos namorados, e não havíamos prometido monogamia, mas acho que estava subentendido, não? Afinal, quem ele pensava que eu era? Uma qualquer que não se importaria em ver o cara que estava ficando agarrando outra nos arbustos? Porque se essa era a imagem que eu passava, tinha alguma coisa errada. Muito errada.
Ouvi o telefone tocar, mas ignorei. Clara atendeu lá embaixo e eu continuei bolando teorias de o porquê Arthur estar agarrando Pérola, até que Clara gritou do andar de baixo:
- Lua! Telefone! - por um momento achei que fosse Arthur, e meu coração parou. - É sua mãe!
Ah… Que bosta…
Peguei o telefone na base e gritei para Clara desligar. Assim que ouvi o clique na linha, murmurei, desanimada:
- Oi, mãe.
- Querida, você não imagina o quão lindo é seu vestido para o baile! - minha mãe piou do outro lado. Virei os olhos. “Tudo bem comigo, mamãe, obrigada por perguntar…” - Você está lembrada que é esse sábado, certo? Presumo que Arthur tenha um smoking… - ela tagarelava, mas eu havia parado na parte em que o baile era sábado.
O baile era sábado. Como eu conseguiria encarar Arthur? Dançar com Arthur!
Ai, meu Deus…
Ouvi minha mãe delirar por alguns minutos, só grunhindo como resposta. Assim que ela terminou de despejar toda sua futilidade em cima de mim, avisou que precisava ir buscar meu meio-irmão na natação. Mas antes me deu uma ótima notícia: Eu já poderia escolher um carro.
Bom, pelo menos uma notícia boa para variar…
- Beleza, mãe, vou escolher e te mando por e-mail. - tentei parecer animada, mas saiu mais como um muxoxo.
- Ótimo, querida! Sábado de manhã mandarei o motorista para buscá-los. Um beijo para você e mande um beijo para Arthur!
- Pode deixar. - suspirei, desligando o telefone e o recolocando na base.
Comecei a contar na cabeça as vezes que precisaria encontrar Arthur antes do ano acabar. Ainda precisaria encará-lo na escola no dia seguinte, sexta no show, sábado no baile e segunda-feira no projeto - que aliás, precisava decidir onde o colocaria no maldito projeto. Talvez colocasse ele numa fantasia de cachorro-quente e estava tudo resolvido. Depois desses quatro dias, eu poderia esquecer que Arthur existira na minha vida e seguir em frente. No final do ano iria para a faculdade e esqueceria de tudo.
Deus, por que doía tanto pensar nisso?
Olhei para o celular em cima da mesa. Mel e Rayanna provavelmente estavam se arrumando para o encontro duplo, e Sophia com certeza estaria se agarrando com Micael. Pra quem poderia ligar? Ninguém. Absolutamente ninguém.
Vida de merda…
Capitulo 69


Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 14:07, Elite Way.
Thur:
- E foi isso que aconteceu. - terminei a narrativa, observando os olhos castanhos de Carla diminuírem. Depois de muito pensar em casa, resolvi ir buscá-la na escola, pois ela sempre fora minha voz da razão, e era bom ouvir o ponto de vista de uma mulher para variar. Estava meio alto, e ela percebeu, não me deixando dirigir e me fazendo parar o carro em frente à escola para conversar. - O que você acha que é? Vingança ou ela gosta mesmo do cara?
- Arthur, tá na cara que ela te viu e ficou puta. Aliás, se eu fosse ela nunca mais olharia na sua cara… - Carla comentou sombria. - Ou você acha que é legal ser feito de idiota?
- Pô, Carla, dá um desconto, a menina estava quase chorando! E ela é minha amiga desde sempre, sempre me apoiou, sempre esteve ao meu lado… Também não achei justo com ela… - expliquei, e Carla riu amarga.
- Você acha mesmo que ela só queria que você cumprisse uma promessa idiota? - perguntou. - Ela queria mesmo era foder com a sua relação. Por que você acha que ela pediu pra conversar com você no exato momento E lugar em que você havia combinado de se encontrar com Lua? Desculpe-me, Arthur, mas você foi muito idiota. Pérola pode ter ficado ao seu lado como acompanhante, mas nunca mexeu um dedo pra te ajudar, em nada. É a Lua que está realizando seu sonho e é ela que vai impedir o papai de te mandar pra um internato. E eu gostava tanto dela… - ela murmurou, sentida.
- Você nem conhecia ela! - exclamei incrédulo. Depois abaixei a voz, percebendo alguns olhares em cima de nós dois. – Porra, Carla, você poderia ter me animado um pouquinho pelo menos…
- Porra, Arthur! Mas você também poderia ter sido menos burro! Quem promete a uma garota apaixonada um beijo de despedida se “um dia se apaixonasse por outra”? - ela perguntou, visivelmente irritada, apoiando a bochecha na mão. Olhou triste para fora do carro, observando aquele garoto intercambista, Victor, conversar com duas meninas. - Além do mais, não estou no ânimo de te animar.
Bom, pelo menos eu não era o único com o coração partido.
- Ele pisou na bola também? - perguntei, curioso.
- Sim. Feio. Vocês não conseguem não ser idiotas?
- Não… - respondi, olhando para frente. - O que ele fez?
- O que ele não fez. Não me chamou para ir ao baile.
- Ele chamou outra menina?
- Não.
- Então ele ainda pode te chamar.
- Os ingressos acabaram. - ela disse, frustrada. Depois virou o rosto para mim. - Mas, de qualquer jeito, não estamos aqui para falar de mim, e sim de você. O que pretende fazer agora?
- Não sei. Pedir desculpas? - perguntei, indeciso.
- Sim, se você espera perdê-la, é uma ótima coisa a se fazer.
- Então o que eu devo fazer?
- Deve mostrar pra ela que está arrependido, de verdade. Além de explicar o que realmente aconteceu. Sério, Arthur, use sua criatividade. Eu sei que você consegue. - ela ironizou, dando um peteleco no meu nariz. - Você está em condições de ir para a casa?
- Até parece que você não me conhece. Eu dirijo melhor bêbado! - exclamei, fazendo-a rir.
- É, tá legal… Só não vai se matar, ok? Agradeço a carona, mas vou para a casa da Sarah fazer trabalho. - ela se inclinou para poder beijar minha bochecha. - Se cuida, Arthur.
- Você também, baixinha. - brinquei, e ela saiu do carro, batendo a porta.
Esperei ela atravessar a rua e se enfiar no meio de um grupo de meninas antes de ir embora. Carla sabia dar conselhos, e não era por menos que queria fazer psicologia. Era a razão em pessoa. Era uma pena estar sofrendo por um metido idiota importado da França.
Agora teria que bolar um jeito de fazer Lua me perdoar, só não sabia por onde começar…
Bom, teria tempo para pensar naquilo durante o ensaio
Capitulo 70


Quinta-feira, dia 12 de Novembro, 15:12, casa dos meninos.
Lua:
Que constrangedor. Sério. Havia me esquecido que tínhamos ensaio àquela tarde. Quando Micael me ligou quase caí de costas. Aliás, se não estivesse deitada, provavelmente teria caído.
- Eu preciso mesmo ir? - perguntei, implorando mentalmente para que ele dissesse que não.
- É melhor, Lua. O show é amanhã, precisamos ver se está tudo certo e passar o setlist…
Ele estava certo. Então eu estava ali, encarando meus tênis, enquanto eles passavam as músicas.
Assim que cheguei à casa deles dei de cara com Thur na sala, que abriu a boca para dizer algo, mas então a fechou e só ficou me olhando com cara de idiota. Acenei com a cabeça para ele, no melhor estilo me-desculpe-mas-não-é-você-quem-eu-amo e fui me sentar ao lado de Micael, que estava contando como fora mais cedo com Sophia. Tentei ouvir, mas não consegui absorver as palavras. Teria que pedir para que ele contasse novamente mais tarde, pois não estava em condições de ouvir histórias de amor.
Fiquei um bom tempo viajando nos desenhos do tapete da sala até que Pedro avisou que estava tudo pronto para o ensaio. Caminhei ainda olhando para o chão, tentando ao máximo não cruzar olhares com Arthur. Sabia que se o fizesse não agüentaria e pediria uma explicação. Mas eu não queria ser mais uma vítima. Se eu nunca fora a vítima nas situações, por que dessa vez seria diferente?
Só podia ver da sua cintura para baixo, e também suas mãos. As mesmas que agarraram Pérola mais cedo…
Argh!
Achei estranho ele não querer conversar comigo direito, pois eu havia sido bem vaga mais cedo. Mas, bom, a julgar pelo beijo que dera, acho que ele não estava muito preocupado comigo naquele momento.
Isso fez meu pulso se fechar.
Por que eu me entregara tanto assim a ele? Sério, com o que eu estava na cabeça?
- O que você acha Lua? - Chay perguntou, e eu levantei a cabeça pela primeira vez em muito tempo. – Livre Pra Viver pra abrir?
- Sim. Depois Blackout. Pra fechar… Não sei, Depois da Chuva? - opinei, ignorando Arthur, que estava apoiado na parede de espuma.
- É, pode ser… São quantas músicas mesmo? - Pedro perguntou, anotando em um papel o que estávamos falando.
- Oito músicas, mas sem a galera pedir, estourando nove. - respondi, roendo as unhas. Depois lembrei-me de minha mãe, e de Thur me dizendo que homens reparavam muito em mãos feitas e limpas, e tirei o dedo da boca.
- Beleza, se pedirem a gente pode fazer um cover… Beatles é uma boa, todo mundo curte. - Thur comentou. - Help ou, sei lá, I Wanna Hold Your Hand.
- A gente vê isso depois, vamos fechar o setlist principal agora. - Micael cortou seu barato, querendo ser profissional.
Depois do setlist fechado, eles passaram as próximas duas horas ensaiando. E eu passei às duas horas me segurando para não dar uma só olhadela à Thur. Foi quase impossível, mas quem acredita sempre alcança, e eu senti uma incrível sensação de vitória assim que Chay desligou os amplificadores e pediu arrego.
Os quatro foram fumar, e eu os acompanhei. Peguei meu maço, acendi um cigarro e fiquei observando a pequena névoa que se formava em cima da piscina. Eu já era meio alucinada, e depois do tiro no coração que havia recebido mais cedo, estava mais louca do que o normal.
- Então, Lua, como vamos fazer amanhã? - Pedro perguntou, estalando o dedo na frente do meu rosto.
- O show é às 14h. Já convidei todo mundo no Twitter, facebook, myspace. Tivemos 130 ingressos comprados, mais umas 50 confirmações de compra na hora. Acho que vai chegar a umas 250 pessoas… - quando comentei isso, eles vibraram silenciosamente. - Vocês devem conhecer o lugar, ele é pequeno, com um palquinho no fundo, embaixo das luzes. No dia o restaurante vai fechar, então vai ser só pro show mesmo. O lugar agüenta 400 pessoas, mais do que isso o proprietário falou que não deixa mais entrar. Menos de 16 anos não entra cerveja, vodka, água e refrigerante nos bares. Quando for umas onze horas vou passar aqui com a Van da gravadora, pegar vocês e os instrumentos. Uma hora da tarde o som já deve estar passado. A casa abre 13h30 e você entram às 14h. Às 15h30 outra banda vai tocar então vocês tem uma hora e meia de show.
- Não vai ser uma putaria maluca, né? O pai do Arthur vai vir com a mãe dele… - Micael perguntou receoso.
- Não, tem um mesanino, onde só Vips entram os pais e essas coisas. - respondi, sentindo meu rosto esquentar por pensar que “conheceria” seus pais.
Meu Deus, eu estava agindo como uma completa babaca! Era só um garoto pelo amor de Deus. E eu era uma fria sem coração, por que não conseguia agir normalmente?
- Vai ser demais! - Chay deu um gritinho afeminado.
- Esse é só o começo. Fim de semana que vem vocês tem mais dois shows e no primeiro final de semana de dezembro vocês vão participar de um festival grande só estamos fechando alguns contratos. - comentei, fazendo-os rir como menininhas.
- Lua, você é nosso anjo da guarda! - Pedro exclamou, animado.
- Nós seremos eternamente agradecidos a você. Não é, Arthur? - Micael disse, dando um tapa no ombro dele.
- Sim. Sim. Eternamente. - ele respondeu meio seco.
Ele fazia a bosta e ainda me tratava mal!? Será que ele poderia ser menos imbecil?
- Bom, meninos, preciso ir porque amanhã é correria. Procurem dormir, sei lá, sem nenhuma festinha particular hoje à noite. Amanhã vocês têm a noite inteira pra fazer a after party, não precisa ser hoje. - recomendei, apagando meu cigarro no cinzeiro e me levantando. - Boa noite. Até amanhã.
- Boa noite, Lua! Nós te amamos! - Chay gritou.
- Sim, você é a nossa mascote! - Pedro brincou.
- Até que ela ficaria legal numa fantasia de Phoenix… - Micael comentou.
- Há-ha, vão se foder. - mostrei o dedo do meio, fazendo-os ir.
Abri a porta de correr que dava para a cozinha. Passei pela sala e abri a porta da frente. Quando fui fechá-la, senti que algo impedia. Vir-me-ei e dei de cara com Arthur, ofegante.
Aquilo já estava ficando freqüente.
- Posso pelo menos te dar uma carona? - ele pediu me mostrando as chaves do carro.
- Não precisa, eu vou de ônibus. - respondi seca. Aqueles olhos castanhos que tanto me animavam só estavam me deixando mais nervosa.
- Lua, por favor, eu sei que você só está brava comigo, que essa história de Eric é mentira. Não precisa inventar coisas, a gente pode conversar e resolver isso. - ele disse, segurando uma risadinha no canto da boca.
Imbecil! Idiota! Canalha! Prepotente! Ainda tinha a cara de pau de rir da MINHA cara?
- Arthur, sério, eu preciso ir embora. - me segurei para não fechar a porta em sua mão e me virei, descendo as escadas.
- Lua, por que você não para de besteira e deixa eu me explicar? - ele suplicou.
Bufei. Eu era fria e calculista, mas era um ser humano. Tinha curiosidades e necessidades. E, acredite se quiser sentimentos.
Vir-me, meio contra a vontade da minha consciência, e esperei. Arthur desceu dois degraus, ficando um acima de mim. Apoiou-se na grade da escada e respirou fundo.
- Eu tinha prometido à Pérola que se algum dia me apaixonasse por alguém, lhe daria um beijo de despedida. Eu estava bêbado, e ela ficou enchendo meu saco, então eu acabei prometendo. Já faz uns dois anos isso. E hoje ela veio me cobrar. - ele explicou, com os olhos suplicantes. - Por favor, você precisa acreditar em mim! Fiquei bolando algum jeito de te pedir desculpas hoje no ensaio, mas achei que ser sincero era melhor. Sério, Lua, eu nunca quis te magoar, mesmo. Eu sei da minha fama, sei o que as garotas falam de mim pelo colégio, mas sei também que o que eu sinto por você é diferente, é especial. Eu… - ele pigarreou meio constrangido. - Sei lá, eu… Eu amo você.
Deixei minha boca abrir um pouquinho. Afinal, era muita informação pra uma pessoa só. No começo do dia nós estávamos bem. Na metade ele havia me traído. No final da tarde estávamos nos ignorando e pra fechar com chave de ouro ele dizia que me amava?
WTF, Arthur Aguiar?
Fechei os olhos, tentando organizar as coisas. Mas o “Sei lá eu… Eu amo você” não me saía da cabeça. Como eu poderia ficar brava com alguém que me amava? E que, bom, eu amava de volta?
- Fala alguma coisa? - ele pediu, segurando minha mão.
Olhei para suas mãos. As mesmas que puxaram Pérola pela cintura mais cedo. As mesmas que me proporcionaram os piores segundos da minha vida. As mesmas que já estavam cansadas de agarrar garotas por aí. As mesmas que estavam cansadas de enganar garotinhas inocentes.
Eu não era mais uma garotinha. Não era inocente. E não cairia no seu papo furado.
- Bom, em relação à explicação, eu acredito em você. - respondi, calculando friamente o que poderia dizer para magoá-lo como ele havia me magoado mais cedo. - Mas em relação a você me amar, eu não posso fazer nada. Já te disse hoje de manhã que eu gosto de outra pessoa, e nada que você fizer ou disser vai mudar isso. Eu sinto muito, Arthur, mas eu não correspondo aos seus sentimentos.
Dito isso, soltei minha mão debaixo da sua e observei seus olhos castanhos, antes confiantes, murcharem um pouquinho. Não deixei dizer nada e praticamente saí correndo pela rua como uma doida. Cheguei ao ponto de ônibus bem na hora em que o meu passava. Subi esbaforida, sentei-me e apoiei a testa no vidro.
Agora tinha que dar um jeito de ficar com Eric.
Só assim minha vingança estaria completa.
Capitulo 71

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 10:34, intervalo do Elite Way.
Guys:
- Ah, cara, fala sério, isso só pode ser brincadeira. - reclamei, enterrando as mãos no meu cabelo. - Eu nunca vi ela conversando com esse otário antes, e do nada eles são amigos íntimos?
- Você nunca viu porque você nunca prestou atenção nela antes de precisar de sua ajuda. - Chay criticou sem olhar para mim.
- É, isso é verdade. - Micael provocou, acenando com os dois braços para Sophia, que saía do segundo prédio com Rayanna e Mel ao seu lado.
As três vieram até nós quatro rindo dos malabarismos de Micael para chamar atenção. Sophia deu um selinho em Micael, sentando-se ao seu lado, com o rosto vermelho. Mel nos cumprimentou e cochichou algo no ouvido de Chay, que riu. Rayanna sentou-se entre Pedro e Micael, e iniciou uma conversa sobre a doença da vaca louca com Pedro, que parecia uma criança empolgada.
Virei os olhos.
O amor estava no ar.
Menos para mim.
- É, Arthur, parece que ninguém vai tocar pelado amanhã. - Micael sussurrou em meu ouvindo, fazendo Sophia rir.
Ignorei-o. Não conseguia tirar os olhos de Lua e Eric, que estavam conversando animadamente desde o começo do intervalo. Ele a estava prensando na parede, no melhor estilo bad boy, e ela ria de quase tudo que ele falava. De vez em quando ele colocava uma mecha do seu cabelo que insistia em cair atrás de sua orelha, e ela abaixava o olhar, envergonhada.
Onde estava aquela garota fofa enquanto nós estávamos juntos? Sério, eu queria mesmo saber. Quero dizer, ela estava até maquiada pelo amor de Deus! Quando nós estávamos “juntos” eu tinha que brigar com ela para rolar pelo menos um cabelo solto!
Aquele cara ia me pagar… Ah se ia…

Capitulo 72

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 10:35, intervalo do Elite Way.
Lua:
- Então é esse o trato! - exclamei, sorrindo como uma santa, enquanto Eric brincava com o meu cabelo.
- Fechado. Mas você vai fazer todos os trabalhos, certo? - ele perguntou, dando um peteleco no meu nariz.
Aquilo me irritou.
Mas Eric era tão gato que eu meio que não me importei. Sabem como é, loiro, alto, olhos verdes, cabelos pro lado e ombros largos. Do tipo sedutor com cara de garotão.
Lindo!
- Eu já tenho todos eles feitos. - respondi, e ele sorriu animado.
- E por quanto tempo vai precisar de mim? - ele perguntou, se aproximando.
Bom, pelo menos ele era um bom ator.
- Não sei, talvez alguns dias… Quando eu não precisar mais de você eu aviso, ok?
- Ok, gata. - ele disse, beijando minha bochecha.
- É, mas sem gracinhas, Eric. É só provocação.
Ele olhou para a direção de Arthur, que parecia estar com vontade de estrangulá-lo, e riu.
- Vai   prazer.
Capitulo 73

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 10:36, intervalo do Elite Way.
Guys:
- Thur, cara, é sério, você tá parecendo um animal esfomeado. - Pedro chamou minha atenção. - Aquelas meninas da oitava série parecem com medo de você.
Ele apontou para um grupo de garotinhas sentadas no chão me olhando, espantadas. Então eu me olhei. Estava sentado na ponta da mesa de concreto, curvado, olhando para Lua fixamente, com os olhos arregalados e a boca aberta. Só faltava babar.
- Ah, cara, foda-se, eu tô fora daqui. - murmurei, levantando-me.
- Cara, eu não ligo pra onde você vai, você sabe que não, mas, por favor, esteja em casa às 11h. - Micael gritou, e eu só acenei com a cabeça, já longe da mesa.
Atravessei o pátio, passando indiferente por Lua, que não desviou os olhos de Eric. Passei também por Pérola, que me lançou um sorriso angelical ao lado de Kátia. Ignorei-as também. Fui até os fundos do colégio, pulei a parte mais baixa do muro e entrei no Loui’s. Ele estava atrás do balcão limpando alguns copos, e me cumprimentou com a cabeça, sem tirar os olhos de dois garotos esquisitos no fundo do bar, que fumavam algo suspeito.
Algo natural, se é que você me entende.
- E aí, Loui. - acenei, sentando-me no bar. - Me vê uma breja.
- Jovens nojentos. - ele resmungou, colocando a cerveja na minha frente. Apoiou a barriga no balcão e continuou a limpar o copo, que ficava cada vez mais sujo. Ri sozinho e entornei o líquido da caneca, limpando o bigode de espuma que se formou com o dorso da mão. Pedi mais uma, e repeti o movimento. Quando dei por mim, encarava uns 5 copos no balcão e estava meio zonzo.
Olhei no relógio, e já eram 10h47. Eu tinha 13 minutos para chegar em casa, e estava ligeiramente bêbado.
Bom, Thur, bom. Fazendo besteiras desde mil novecentos e alguma coisa.
Meu Deus, eu não sabia nem o ano em que tinha nascido!
- Aqui, Loui, valeu. - despejei todo o dinheiro que tinha no bolso - talvez até um pouco mais do que aquelas cervejas valiam - e saí do bar, fazendo sinal para um táxi que passava. Ele parou e eu deslizei pelo banco de trás.
Bom, se eu teria que fazer aquilo, que fosse com estilo.
Capitulo 74

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 11:03, casa dos meninos.
Lua:
- Irresponsável! - gritei, estressada, assim que Arthur saiu do táxi, meio bambo. - Você é surdo ou o quê? Eu disso 11 horas EM PONTO aqui! E você além de nos atrasar chega bêbado!
- Cuida da sua vida, Lua. - ele respondeu, olhando no relógio do celular. - Você não é minha mãe. E são 11h03, que diferença isso faz?
- Imbecil. - murmurei sem ser ouvida, entrando na casa. Micael e Pedro conversavam e Chay fumava um cigarro, olhando nervoso para a porta. Pelo menos alguém queria que aquilo desse certo. Ao contrário do idiota do Arthur. - Ele chegou. - anunciei, e os três ficaram em silêncio assistindo Arthur passar pela porta e subir as escadas como se ninguém mais existisse além dele. Desceu com as mãos vazias e só aí percebeu que todos os instrumentos já estavam na sala. Mas pelo menos ele estava trocado.
Usava uma calça jeans de corte reto preta, um All Star também preto, camiseta verde escura do Star Wars e camisa xadrez vermelham e cinza por cima.
Apesar de tudo, ele estava muito gato. Muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito gato.
Por quê, Deus!? Por que você tinha que me castigar assim!? Sempre fui uma menina tão boa!
- Hm… Lua? Tá tudo bem? - Micael perguntou, passando a mão na frente do meu rosto. Tirei os olhos de Arthur, que estava com aquela risadinha de desdém na cara, e senti minhas bochechas esquentarem.
- Sim, tá tudo bem. - respondi ríspida. Coloquei meus óculos de sol D&G e fui em direção à porta. - Vamos então?
Os quatro me seguiram, colocaram os instrumentos em uma Van prateada e entraram na outra, exatamente igual. Fui na frente com o motorista e Pedro, e os três foram atrás. O lugar ficava perto de um lago, e era super movimentado àquela hora do dia. Estava nervosa por eles, mas sabia que se sairiam bem. Afinal, pelo menos uma coisa eles faziam bem: Música. Eu crescera nesse meio, e sabia distinguir o que era bom e o que era ruim. E o Phoenix estava a um passo do estrelato.
Infelizmente eu havia feito um puta favor a quem não merecia. Mas os outros três compensavam tudo.
- Sabe, ele não é tão idiota assim, só está nervoso com o show. - Pedro sussurrou ao meu lado. - Ele tem medo de palco. Palcofobia. - ele riu da própria piada.
- Como ele tem medo de palco e quer ser um rockstar? - perguntei, achando graça.
- Ele não quer ser um rockstar. Nunca quis. Mas ele se convenceu de que nasceu pra isso. - Pedro olhou para frente. - Pelo menos foi convencido por nós. Você deve saber disso, Lua. Uns treinam e ficam bons, outros nascem com o dom, treinam e viram estrelas. Outros simplesmente nascem para ser. Esse é o caso do Arthur.
Olhei para trás com o canto dos olhos. Ele estava com a cabeça apoiada no vidro da Van, olhando distante para fora do carro. Por um instante me senti tentada a perdoá-lo.
Mas só por um instante.
- Ele é sempre idiota. - resmunguei.
- Não querendo me meter, mas já me metendo, o que houve entre vocês dois?
- Não houve nada. Eu só não o amo como deveria amar. - menti, sem nem pensar. Estava com aquela desculpa pronta para usar caso alguém perguntasse o que havia acontecido com o casal mais estranho de todos os tempos, mas mesmo assim fora difícil dizer.
- Não é o que parece. - ele comentou, voltando a olhar para frente. - Mas se é verdade, é uma pena. Ele gosta mesmo de você.
“Não foi o que pareceu enquanto ele enfiava a língua na goela de Pérola…”
Ótimo, agora além de traída eu receberia lições de morais dos companheiros de banda do cara que havia me traído? Eu quem deveria estar dando lições de morais! Claro que eles não sabiam na parte da traição, então eu não poderia dizer nada. Na cabeça deles, eu era a errada por fazer o pobre Arthur Aguiar sofrer.
Afinal, mesmo que ele não tivesse me traído quem faz uma promessa bêbada para uma oportunista como Pérola?
Olhei para fora, observando as casas voarem pelo vidro. Chegamos ao TacoPlace em quinze minutos, e o lugar parecia lotado. Algumas meninas com saias curtas e meias arrastão esperavam do lado de fora, e alguns caras com o cabelo de lado fumavam um baseado e andavam de skate pela rua. Depois de vários anos frequentando o lugar, nunca o havia visto tão cheio. Olhei para Pedro, que olhava maravilhado pelo vidro. Fiz sinal para que o motorista fosse mais para frente. Assim que chegamos aos fundos, ele estacionou e nós saímos. Chay, Micael e Pedro foram para a outra Van retirar os instrumentos, e Thur se afastou para falar ao celular.
Deveria ser Pérola. Aquela vadia não desistiria nunca até acabar com a minha vida.
Fui até os meninos, que recusaram qualquer ajuda minha, e me encontrei sozinha com Arthur assim que eles atravessaram a porta do estabelecimento.
- É, pai, é exatamente onde você está! … Não, não é brincadeira… Sim, pai, eu estou aqui atrás fumando um baseado com esses skatistas… Pai, eu tô brincando… Entra e dá seu nome pra recepcionista, ela vai te colocar no mezanino, onde você será o próprio intocável, ok? - ele desligou o celular e ficou olhando para o visor. - Tchau pra você também, papai.
Guardou-o no bolso, tirou o maço de cigarros e acendeu um, não suspeitando - ou apenas ignorando - que eu estava ali.
Olhei para baixo, me analisando. Usava um mini-vestido estampado com uma jaqueta curta e preta, meia-calça preta, scarpin preto, bolsa de couro preta, colar e pulseiras de prata e meu cabelo estava preso num coque desfiado. Quando a coloquei, pensei que era uma roupa legal, mas naquele momento eu só conseguia me sentir estúpida com toda aquela produção. Passei horas e horas escolhendo, tentando pensar como uma pessoa “fashion”, e aquele era o melhor que poderia conseguir.
No fundo eu queria mesmo era uma aprovação de Arthur, como se houvesse passado de mais um teste rumo meu aprendizado, mas nós não estávamos nos falando direito, e eu não conseguia olhar para ele sem querer matá-lo.
Apoiei-me na Van, peguei meu maço de cigarros e acendi um. Arthur se virou, surpreso por não estar sozinho, e me olhou de cima a baixo.
- Pensei que estivesse sozinho. - ele comentou, diminuindo nossa distância ao dar alguns passos em nossa direção. - Você está linda.
- Obrigada. - soltei a fumaça, esperando que ela camuflasse minha vergonha. - Não vai ajudar seus amigos?
- Eles já levaram tudo. - ele apontou para a Van vazia.
Olhei para ele, que me encarava com seus lindos olhos castanhos. Nós estávamos bem próximos. Mais próximos do que eu poderia aguentar.
Por que ele tinha que ter me traído? Por quê?
- Vamos entrar vocês precisam passar o som. - lembrei-o, apagando o cigarro com o bico do scarpin e dando dois passos para o lado.
- Você não quer conversar comigo? - ele perguntou, imitando meu gesto.
- Quero, mas vocês precisam passar o som. - respondi seca.
- Lua. Olha pra mim. - ele ordenou. Levantei meus olhos. - Eu quero que você olhe pra mim e diga que você não sente nada por mim e que ama Eric . Eu só preciso de mais uma confirmação e eu te deixo em paz definitivamente.
Fiquei muda por alguns segundos, encarando seus olhos. Por que era tão difícil mentir para ele? Por que ele não podia me deixar em paz? Estava claro que ele só queria curtir com a minha cara, então por que não admitia de uma vez e ficava com todas as garotas que queria ficar?
- Arthur, pare com… - tentei dizer, mas ele me cortou com uma só palavra.
- Mentirosa.
Olhei para ele, incrédula.
- Você não consegue fazer o que eu te pedi porque você é uma mentirosa. Eu já te expliquei o que aconteceu com a Pérola, e você não quer me perdoar. E eu disse que te amo! Você sabe o quanto isso foi difícil pra mim? - ele parou para respirar, alterado. - Mas é mais fácil, não é? Me colocar de lado de uma vez por todas. Afinal, eu sou só um galinha idiota que não merece nenhum tipo de valor. É isso que você pensa, é isso que todas pensam. Mas eu não sou idiota, Lua, então não tente dar uma de superior pra cima de mim. Eu sei que eu errei, e estou tentando consertar isso, mas você não me dá uma porra de uma chance!
Bom, eu realmente não esperava por aquela.
Era verdade, sempre o achei meio idiota, meio bobão. E agora ele estava ali, me provando o contrário.
Mas me chamar de mentirosa foi meio golpe baixo. O mentiroso traidor era ele, não eu!
Fiquei sem palavras, gaguejando coisas sem sentindo enquanto ele me olhava impaciente, esperando uma resposta.
- Arthur, cara, temos que passar o som agora. - Chay nos interrompeu, jogando uma bolinha de papel amassada em sua cabeça.
- Beleza. - ele concordou, sem tirar os olhos de mim. - Estou indo.
Depois virou e entrou no TacoPlace, deixando-me completamente sozinha.
Bom, ele veria quem era a mentirosa.
Capitulo 75

Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 13:02, TacoPlace.
Guys:
Ver Eric entrar no TacoPlace assim que as portas se abriram não foi nenhuma surpresa. Assim como não foi surpresa nenhuma avistar Pérola, Kátia, Fábio, Carlos e Michel entrarem no lugar. Todos estavam ali para infernizar minha vida no exato dia em que o que eu menos precisava era de confusão. Porque aquele era eu. Azarado e cheio de inimigos. Alguns inimigos desde sempre, outros ex-amigos.
- Que merda, eim? - Pedro comentou ao meu lado, como se lesse meus pensamentos, olhando por entre a estrutura do palco para nossos ilustríssimos fãs.
- Que grande merda. - concordei, fazendo-o rir.
Virei de costas e saí do lugar para tomar um ar. Lua não estava mais atrás do palco porque graças a Deus suas amigas a mantinham ocupada no bar e eu podiam pensar direito sem ter que estremecer toda vez que ouvia sua voz. O que era bem tranqüilizador. Mas minha cabeça continuava confusa. Afinal de contas, ela gostava ou não de mim? Ela estava ou não me punindo por tê-la traído? Eu não conseguia entender, não conseguia ler suas expressões.
E por que, diabos, ela tinha que estar tão gostosa?
Eu nem havia percebido quando chegara em casa, tamanha era minha irritação, mas depois que analisei o conteúdo enquanto fumava um cigarro era que a ficha havia caído. Eu conseguira transformar Lua numa gostosa, e eu tinha certeza que pelo menos 90% dos homens do lugar estavam babando em suas coxas.
O que não me deixava muito contente para dizer a verdade.
Apoiei-me na parede e fechei os olhos para tentar pensar direito naquela história toda. Mas a única coisa que consegui foi bagunçar meu cabelo. Porque, na verdade, não tinha no que pensar. Eu a amava. De verdade. E já havia parado de tentar me convencer que não. E eu havia estragado tudo.
O que era uma merda, porque mesmo sabendo que ficar com Pérola fora errado, eu não me sentia mal por aquilo em particular. Porque Pérola era uma grande amiga. Mas o fato de Lua nem me deixar explicar o que realmente havia acontecido estava me matando!
- Vamos lá, Arthur, é o seu momento. - Micael colocou a cabeça para fora, rindo. - Se for vomitar, faça agora.
Senti meu estômago embrulhar. Aquela até que não era uma má ideia!
Curvei-me e vomitei no chão, fazendo Micael gargalhar. Depois de despejar as panquecas que havia comido mais cedo e metade do meu suco gástrico, coloquei um chiclete na boca e entrei. Micael já contava a todos que eu havia vomitado, mas aquilo não me incomodara. Eu estava tão incrivelmente nervoso que bloqueei tudo que meus amigos falavam.
- Bom, vamos lá. - Pedro colocou a mão em meu ombro. Abracei Micael ao meu lado, que abraçou Chay que fechou o círculo com Pedro. - Vamos lá, nós sabemos tudo de trás pra frente, somos bons e vamos mostrar pro pai do Arthur o potencial que o Phoenix tem!
- É isso aí! - Micael gritou, antes de desfazer o círculo e subir no palco. Pedro foi atrás dele, sendo seguido por Chay.
Olhei para a estrutura de ferro na minha frente. A escada que dava para o palco parecia mais assustadora do que nunca fora. Eu não queria subir. Aliás, dizer que não queria subir era eufemismo. Eu queria era sair correndo dali para nunca mais voltar.
Phoenix! Phoenix! Phoenix! Phoenix! as pessoas gritavam, animadas.
Micael deu dois passos para trás e fez sinal para que eu subisse. Olhei novamente para a escada, estático.
“Vai, Arthur, você consegue fazer isso. É só um show. Só um show.” pensei, mas minhas pernas não queriam me obedecer. Olhei para Micael suplicante, que olhou assustado para mim. Depois desceu as escadas sob algumas vaias.
- Qual é cara, você já fez isso antes! Vamos lá! - ele implorou, me abraçando pelos ombros e me rebocando para o palco. Subi as escadas abraçado a ele e me posicionei, sem olhar para qualquer lugar que não fossem meus pés.
Fechei os olhos apertados, tentando me concentrar. Todas aquelas pessoas estavam ali por mim. Eu já havia vomitado. E música era o meu dom, minha vida. Qual era o grande problema?
O GRANDE PROBLEMA ERAM TODAS AQUELAS PESSOAS ME ENCARANDO!!!
- E aí, galera, prontos para mais um baile do Phoenix? - Pedro gritou ao microfone, fazendo as pessoas rirem.
-Livre Pra Viver ! - Micael gritou,
Passei a música inteira encarando meus tênis. Eu queria ver se as pessoas estavam curtindo, cantando, queria ver a cara do meu pai ao ver mais de 200 pessoas ali, só por mim, queria ver se as meninas já estavam bêbadas e queria ver o que Lua estava fazendo. Mas eu simplesmente não conseguia levantar os olhos!
A música acabou e Tchau Pra Você Começou. As meninas da frente gritavam animadas, e eu podia ouvir as risadas escandalosas das minhas amigas de longe.
Aquilo aos poucos foi me dando confiança. Se todos estavam curtindo, por que não aproveitar?
Primeiro levantei a cabeça num pique só para o mezanino, encontrando meu pai, que olhava curioso para a platéia e falava algo com a minha mãe, que concordava com a cabeça. Ele não parecia bravo, entediado nem indiferente. Ele estava presente em corpo e alma, e parecia até animado.
Ponto pra mim!
Desci a cabeça lentamente, avistando minhas amigas no bar, bebendo e rindo. Mas Lua não estava com elas. Virei a cabeça para o lado, encontrando Pérola e Kátia, que dançavam animadas. Não encontrei nem Fábio nem Michel, só Carlos, que conversava com uma garota muito bonita do segundo ano. Perto da porta Hirata e seus amigos enchiam a cara e gritavam.
Estava tudo legal. Tudo perfeito. Todos estavam curtindo.
Até… Bom, até que encontrei Lua.
Beijando Eric.
Capitulo 76


Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 13:00, TacoPlace.
Girls:
- Lua, por favor, acho que por hoje já deu. - Rayanna disse autoritária, tirando o shot de vodka da minha mão. Ela colocou no balcão e fez sinal para que o barman o levasse para longe.
Virei os olhos, puta. Qual é, eu não podia nem encher a cara a vontade?
Olhei novamente para o palco, lenta. Arthur ainda não havia levantando a cabeça. Em que diabos ele estava pensando?
Olhei para o lado, observando Pérola dançar e seduzir todos os homens ao seu redor. Inclusive Eric, que parecia ter esquecido que eu estava ali, esquecido minha proposta e esquecido até qual era seu nome.
Olhei novamente para o palco, e percebi que Arthur, assim como Eric, olhava para Pérola. A primeira vez que o canalha tirava os olhos dos tênis era pra olhar para aquela vagabunda? Meu Deus, como eu fora idiota em acreditar que ele pudesse gostar pelo menos um pouco de mim!
Mordi a boca, espumando de raiva. Agarrei Eric pelo braço, o virei para mim e dei o beijo mais escandaloso que conseguia.
No começo ele ficou surpreso, mas depois curtiu e envolveu minha cintura com seus braços. Eu estava com a cabeça longe, ouvindo o som, que agora estava descoordenado. Eles não haviam errado nada até aquele momento, e depois do beijo pareciam uma banda de garagem que não tinha experiência nenhuma.
Soltei a cabeça de Eric preocupada e olhei para o palco, encontrando os olhos de Arthur cravados em mim e seus companheiros de banda olhando para ele desesperados.
- Bom isso não estava no trato, mas eu posso me acostumar. - Eric brincou atrás de mim, mas eu o ignorei, sem tirar os olhos de Thur.
“Arthur, caralho, presta atenção!” pude ler os lábios de Micael, que gritavam pelas costas de Thur.
Mas não era preciso a bronca, porque assim que meu beijo com Eric terminou, a música voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido. Aliás, leigos na música provavelmente não haviam percebido o erro.
Eu estava me sentindo bem. Havia causado algo em Arthur. Mas não era minha intenção acabar com seu show, por isso tirei os braços de Eric da minha cintura e dei dois passos para o lado, que pareceu não se importar e voltou a observar o pequeno showzinho de Pérola e Kátia, hipnotizado.
Arthur voltou a encarar os tênis, e assim ficou até o final do show.
Capitulo 77


Sexta-feira, dia 13 de Novembro, 15:12, TacoPlace...
Guys:
Eu observava Pedro, Micael e Chay de longe, enquanto eles conversavam com as pessoas que os rodeavam. Eu deveria estar junto, lambendo o cu dos meus supostos fãs, mas não estava nem um pouco a fim. Eu só queria ficar quieto, longe de todos, respirando fundo para tentar fazer meu coração parar de pular como louco no peito.
Meu medo do palco era maior do que eu pensava. E aquilo somado ao beijo de Lua e Eric era tortura chinesa.
Para mim ela o ter beijado era o ponto final. Mais cedo pedi a ela que me desse uma prova de que não gostava de mim, e foi o que ela fez. Agora tudo estava acabado. E eu me sentia péssimo.
Eric …Justo o filho da puta que quase me matou…
- Cara, vamos beber! - Chay me chamou, levantando uma garrafa de cerveja. - Já passou, nós conseguimos!
- É… - murmurei, meio desanimado.
Peguei uma garrafa de cerveja e dei um gole. Logo em seguida meu celular vibrou. Atendi sem ver quem era, ouvindo a voz grave do meu pai do outro lado.
- Filho, venha aqui fora, preciso conversar com você.
Virei os olhos, entreguei a garrafa para Mel e me dirigi à porta. Tive que passar por um mar de pessoas, todas me cumprimentando, animadas. Sorri amarelo para todas elas e finalmente me livrei daquele inferno.
Ao sair, meu pai me esperava ao lado de sua Land Rover com minha mãe e Carla.
- Oi. - aproximei-me deles, que sorriam.
- Filho, foi lindo! - minha mãe exclamou, afetada. Depois me puxou para um abraço apertado.
- Obrigado, mãe. - “eu acho”, pensei em completar, mas não ia estragar um dos raros momentos em que minha mãe não estava sob o efeito de seus remédios.
Depois foi a vez de Carla, que só me abraçou sem dizer nada.
Então foi a vez do meu pai.
Olhei para ele, indiferente. Ele me olhava com uma expressão engraçada… Quase como se sorrisse. O que era estranho, porque pra mim meu pai era o Darth Vader, e eu nunca o vira sorrindo. Nunca.
- Mais de 200 pessoas, pai. Você não pode reclamar. Esse era o nosso trato. - comecei, gesticulando. - Eu sei que você agora está procurando alguma brecha no nosso acordo, mas nem adianta. Combinado não é caro e você mesmo…
- Filho, não precisa se alterar. - ele disse, calmo. - Você cumpriu nosso trato. Está livre pra fazer o que quiser da sua vida.
Deixei o queixo cair. De verdade. Ele abriu sozinho.
Claro que eu fiz tudo aquilo para conseguir que ele parasse de encher o saco com a faculdade e blá blá blá. Mas no fundo, lá no fundo, eu sabia que ele não concordaria. Pensava que ele daria algum jeito de sabotar tudo e me mandar sem escalas para a Suécia. O que ele havia dito era realmente uma surpresa.
- Então eu posso continuar com a banda? Posso continuar no Rio ? - perguntei, ainda boquiaberto.
- Sim, pode. - ele respondeu. E depois simplesmente abriu o carro com a chave e minha mãe entrou do seu lado.
Fiquei parado ao lado do carro, tentando processar aquilo.
Quero dizer… Era aquilo? Simples daquele jeito?
Se eu soubesse não teria ficado paranóico por tanto tempo!
- Tchau, filho. Cuide de sua irmã e… - ele apertou o botão e começou a fechar o vidro. - Parabéns.
O vidro se fechou e ele foi embora.
Continua...

0 comentários:

Postar um comentário

Por Favor sem Palavra de Baixo Calao